quinta-feira, 22 de novembro de 2007
2001
2001, realizado em 1968 por Stanley Kubrick, é um filme complexo que se presta a muitas interpretações. Há quem o despreze, considerando o filme como mais um desperdício de celulóide às voltas com viagens espaciais e o destino do homem. Há quem o considere uma experiência religiosa. 2001 é um filme carregado de poderosas imagens visuais. Quase não tem um enredo, e os diálogos são esparsos e estranhamente banais. Mais do que simplesmente contar uma história de ficção, 2001 parece pretender que durante o tempo de duração do filme os espectadores se coloquem questões profundas sobre o nosso destino e o nosso universo. A ligação é clara – neste filme, a ficção científica é mais do que uma história sobre naves espaciais, é do sonho do homem que se trata.
2001 é tecnicamente um filme perfeito, com efeitos especiais fabulosos, criados numa época em que a ideia de animação digital não passava de um sonho. A sincronia entre a música e as imagens é perfeita, com o bailado espacial ao som do Danúbio Azul a reforçar esta ideia. E, coisa rara até nos melhores filmes de ficção científica, é científicamente correcto. O aspecto das naves espaciais, a concepção da estação espacial, as bases lunares - tudo é verosímil, e espelha os projectos de exploração espacial dos anos sessenta. 2001 projecta efectivamente no futuro, um futuro próximo, o mundo futuro imaginado em 1960. Para mais, em todos os segmentos passados no espaço, há uma constante: o silêncio. O espaço é um vácuo - nele não se propaga o som, e não há particulas que difusam a luz. O espaço é negro e silencioso. Não há um violento tonitruar dos potentes motores da nave.
O filme inicia-se com a memorável sequência da alvorada da humanidade, onde assistimos ao dealbar da inteligência humana, para em seguida pulverizar milhares de anos de história humana, com um corte admirável - num instante, vemos um australopiteco a lançar no ar um osso, a sua arma, e no instante seguinte vemos uma nave espacial a afastar-se na órbita terrestre. A nave é uma arma nuclear orbital, e a implicação é óbvia - milhares de anos de história humana e no fundo ainda somos macacos agressivos. Neste filme, Kubrick mima-nos com a mais bela cena do cinema de ficção científica - a aproximação da nave aero-espacial que transporta passageiros e cientistas até uma base espacial toroidal e o seu transbordo para um voo translunar que aterra na base lunar. Ao longo de todo o filme um monólito misterioso é omnipresente - artefacto criado por alienígenas desconhecidos, exerce uma estranha influência sobre a humanidade. Investigar o desconhecido leva o homem para lá das fronteiras do seu ser.
2001 é também famosos pelo personagem HAL 9000, o computador inteligente, o mais humano dos personagens do filme, que mostra os seus sentimentos, que erra e que entra em depressão nervosa devido às suas falhas.
Neste filme entramos firmemente em território filosófico. Só no meio do vazio espacial, o astronauta sobrevivente entra a bordo de um módulo de exploração, e parte em direcção ao monólito. Aí, tudo nos é recusado. O tapete é retirado debaixo dos nossos pés. Tudo o que esperávamos não se concretiza, e o que vemos ultrapassa as fronteiras da nossa imaginação. Os vinte minutos seguintes são um espectáculo psicadélico e abstracto de luz e cor. Quando tudo estabiliza, o astronauta vê-se e é o seu futuro. A sua morte origina um novo ser, uma criança das estrelas, um feto consciente que se aproxima do planeta terra. Apesar de mal termos gatinhado para fora do nosso planeta, o nosso destino é claro - expandir a nossa inteligência e o nosso conhecimento, transmutando-nos como espécie através do espaço galáctico.
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