segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
As Crónicas Marcianas
E-nigma | O Mundo Marciano
O livro que vos trago hoje é um livro culpado. As Crónicas Marcianas foram as responsáveis pela minha grande paixão pela literatura de ficção científica. Não é para menos. Ler As Crónicas Marcianas é apaixonar-se, é sonhar com nostalgias e futuros imaginados, é elevar o espírito a dimensões oníricas.
As Crónicas Marcianas são uma colectânea pouco estruturada de contos de Ray Bradbury que abordam um tema clássico da ficção científica, a colonização de Marte. Sendo ficção científica clássica, As Crónicas Marcianas não descrevem uma colonização cientificamente correcta. No mundo literário de Bradbury, Marte não é um rochedo de atmosfera esparsa e inóspita colonizável apenas através de um gigântico esforço de hardware. Bradbury imagina Marte mais na linha literária de H. G. Wells e de Edgar Rice Burroughs - um planeta semelhante ao nosso, habitado por seres que não são fundamentalmente muito diferentes de nós. Mas se os marcianos de Wells são inescrutávelmente malévolos e Burroughs transplanta para Marte aventuras típicas da exploração de África, Bradbury escolheu um sentido muito diferente.
O planeta Marte de Ray Bradbury é um espaço onírico, quase surreal, onde percepções alteradas coexistem com exotismos sonhadores e nostalgias ternurentas. A colonização de Marte é uma colonização sonhadora, onde se reflecte o que há de melhor e de pior na humanidade. Os aventureiros que colonizam Marte são sonhadores inveterados, que procuram novos horizontes; os marcianos são elegantes fiapos oníricos de uma civilização milenar que se encontra num gentil e elegante declineo.
Tendo escrito nos anos 50, Bradbury espelha n'As Crónicas Marcianas as preocupações típicas da época. Isso explica a prevalência de temas como a crítica à colonização imperialista, o racismo social e a possibilidade de suicídio civilizacional através da guerra nuclear.
Marte está sempre presente no imaginário colectivo. É o planeta mais estudado do sistema solar. As missões exploratórias seguem-se, trazendo resultados e imagens espantosas. Sabemos que a única possibilidade de vida em marte poderá ser microbiana, com um poderá muito incerto. Mas a influência d'As Crónicas Marcianas faz sonhar. Sempre que contemplamos alguma imagem da superfície marciana, nasce a esperança de que o rover não chegou ao local certo; de que a máquina fotográfica está apontada para o local errado; que por detrás da colina pedregosa se esconde uma elegante cidade marciana espiralada em direcção ao céu avermelhado, à beira de um mar antigo sulcado por exóticas gôndolas tripuladas por marcianos de inescrutáveis máscaras douradas.
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