É sempre um prazer ver esta curta metragem portuguesa de animação digital. Já a tinha visto no Motelx e revi-a ontem numa edição do Short Cuts que contou com a presença dos criadores, que falaram um bocadinho sobre o processo de concepção deste filme único.
Conto do Vento parte de uma narrativa que foca a dicotomia entre saber e superstição num passado que nos parece intemporal. Seria mais um desenho animado que conta uma história simpática senão pela estética marcada, muito pessoal e vastamente diferente do que é normal neste tipo de animação. O personagem principal, expresso por imagem e movimento de câmara, é o vento. Dar-lhe carácter obrigou a um repensar da iconografia fílmica, expressa por um vai-vém rodopiante da câmara e de imagens que se mesclam com partículas. Tem um carácter ao mesmo tempo etéreo, do sussurro ao sopro sibilante, e matérico, com uma fortíssima texturização fluída da imagem.
Ouvir os criadores a falar deste filme deu insights preciosos sobre o software utilizado, o processo de criação e o tempo que demoraram na concepção da obra. Sendo uma curta de animação 3D, é um triunfo estético. O pormenor mais interessante de Conto do Vento é a forma como não se verga à estética do digital. É um produto avançado em que se sente que apesar do papel essencial a tecnologia fica em segundo plano, sujeita à estética e às necessidades do contar da história. Um dos criadores referiu especificamente que não estavam interessados numa imagem limpinha, à pixar, sublinhando esta sujeição do software perante o conceito e sentido estético dos criadores. É uma lufada de ar fresco num género onde grande parte do que é criado parece ser uma prova de conceito das capacidades cada vez mais avançadas da modelação 3D, rigging, motion capture e rendering.
E é uma boa história. Já tinha dito isto?
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