quinta-feira, 24 de abril de 2008

Álbuns Favoritos: Jazz a desafinar...



Confesso, caro professor Vaz, que apesar de boas recordações d'O Segredo do Licorne, livro que me levou a desenhar galeões durante alguns meses, os álbuns de Hergé não estão entre os meus mais favoritos albuns de BD, mas confesso igualmente a minha admiração pela mestria da ligne claire saída do lápis do criador do jornalista e da cadelinha Milou.

Eleger o álbum favorito de BD não é tarefa fácil. Tantos autores, capazes de mesclar a mestria na palavra com a mestria do grafismo... qual escolher? Alan Moore e o magistral V for Vendetta? Ben Katchor e o seu genial Julius Knipl? Impossível decidir entre Adrian Tomine, David Mazzuchelli ou Dave McKean. Poderia citar o clássico Hugo Pratt, criador de Corto Maltese, aventureiro de bom coração e destino sempre nas mãos, ou o surreal Moebius, tão à vontade em garagens herméticas com no faroeste.



E que tal seleccionar um autor, o portugês José Carlos Fernandes? Criou A Pior Banda do Mundo, composta pelo contrabaixo de Ignacio Kagel, fiscal municipal de isqueiros nas horas de trabalho; pelo saxofone de Sebastian Zorn, um dedicado serrilhador de selos; pela bateria de Anatole Kopek, criptógrafo de segunda classe e pelo arranhar do piano de Idálio Alzheimer, verificador meteorológico. Quando se diz que a pior banda do mundo é a pior banda do mundo, temos perfeita razão. Esta tem sido consistentemente expulsa de todos os bares onde tocou, logo aos primeiros acordes.É possível que tenham acertado nalgumas notas, algures... mas se o fizeram, talvez seja mais uma história esquecida nas prateleiras empoeiradas da cave da alfaitaria onde há décadas tentam ensaiar alguma peça musical que saia correcta desde a primeira à última nota.



Os ensaios da pior banda do mundo são o detonador de um universo fantástico, uma realidade surreal centrada numa cidade sem nome povoada por homens e mulheres obcecados por sonhos irreais, esperanças desajustadas e projectos económicos inúteis. O imaginário surreal de Jorge Luis Borges influencia o mundo elaborado por José Carlos Fernandes, onde se movem serrilhadores de selos, donos de parques de perversões e projeccionistas em cinemas que passam sem parar o mesmo filme há mais de duas décadas, entre outras personagens surreais e estranhamente obsessivas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado monsieur le professeur artur por responder ao desafio e por algumas referências que ainda não conhecia. A propos já leu o "les PROFS, motivation: 10/10"?

Artur Coelho disse...

Oui, j'ai lu, et c'etait une lecture bien amusant!